terça-feira, 30 de novembro de 2010

Adeus, novembro!


Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires.

|.(Machado de Assis me consome).|

Abertura de Exposição

Quem tem interesse?

Uma oferta sempre é melhor do que a outra. NOT


O meu recado para o Clube Urbano ou Peixe Urbano fica nessa charada de Xuxa Monangel. Quem descobre?


Sem data


Rigorosamente, todas estas notícias são desnecessárias para a compreensão da minha aventura; mas é um modo de ir dizendo alguma coisa, antes de entrar em matéria, para a qual não acho porta grande nem pequena; o melhor é afrouxar a rédea à pena, e ela que vá andando, até achar entrada. Há de haver alguma; tudo depende das circunstâncias, regra que tanto serve para o estilo como para a vida; palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies. (Machado de Assis, Histórias Sem Datas)


domingo, 28 de novembro de 2010

Bom dia, Comunidade!


Mesmo com toda a decadência, ainda crio comunidades exclusivas. Isto é, que só eu entro. Essa se chama "Compreendo.". É uma homenagem justa a essa carinha de Compreendo. que Caê Veloso sabe fazer como ninguém. Significa que algum ser ululante despejava excesso de informações e de peripécias desimportantes diante dele ao passo que a única resposta plausível, boa e oportuna que se pode dar é: Compreendo. Eu passo por isso sempre. Rolou um reconhecimento total da foto, com o tema, com a situação.

Foto: Renata Alves? Alexandre Senna? Gilvan Reis? Não sei, mas é do tempo em que celebridades escandalizavam na falecida Boomerangue, no Rio Vermelho, aqui em Salvador.
Comunidadehttp://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=107290944

Minha alma chora...


...vejo o Rio de Janeiro 

Bença


Numa das passagens mais nostálgicas de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, o escritor moçambiquense, Mia Couto, escreveu: “Não quero sair nunca mais, o mundo já não tem mais beleza”.  As palavras proferidas pelos antepassados africanos e o pesar com o desaparecimento das coisas simples despertou todos os personagens da narrativa para o início de uma caminhada: a caminhada do redescobrir-se. Redescobrir, nos rituais do cotidiano e no nosso pertencimento com a humanidade, tudo aquilo que foi capaz de conferir sentido e leveza à nossa existência. É dessa mesma fonte de inquietude, da mesma sabedoria dos pretos/as velhos/as, e também da necessidade de enfrentar o esquecimento, agarrando nas mãos a memória dos sábios, é que Bença, a nova montagem do Bando de Teatro Olodum, em cartaz desde o dia 5, no Teatro Vila Velha, nos pede passagem para outro tempo.  

Quando se completam 20 anos de trajetória exitosa, tendo se tornado um dos grupos teatrais mais consolidados da Bahia, falar do tempo, dos tempos, soa como uma feliz ironia.  Um momento oportuno para deixar que os mais experientes falem, transmitam ensinamentos. O mote inicial para essa reflexão se expressa no próprio nome do espetáculo. A bença/ benção é o gesto afável, antigo, de reverenciar os mais velhos, pedindo e, ao mesmo tempo, compartilhando um desejo de proteção, de carinho, de amor. O argumento aqui é que esse pequeno ritual, até bem pouco tempo atrás tido como corriqueiro, natural e nem por isso menos importante, já não encontra eco nas gerações mais novas. É um legado que, aos poucos, vem se perdendo do mundo face à rispidez, a racionalidade produtivista, ao individualismo exacerbado, enfim, face à perda da própria essência humana.

A partir desse sentimento de perda, de uma sociedade que, de alguma maneira, desaprende e ojeriza sentimentos em nome de valores fluidos, passageiros, se constrói a narrativa. Com os atores em cena durante toda a peça, as situações vão surgindo para tratar de variadas experiências: os velhos que contam histórias para os seus netos, os netos que tem pressa e vontade de fazer tudo no mesmo instante, a juventude que não aprecia o fruto colhido de uma árvore, os adultos que confundem o sagrado com crendice leviana, a miséria e a dor de um povo sofrido, e a eterna luta desesperada pela vida – para senti-la na sua intensidade.

Evidente que todas essas relações se amparam invariavelmente na questão racial, o que não chega a surpreender em se tratando do Bando e do próprio Márcio Meirelles. No palco essa discussão ganha forma: são duas projeções, um vão livre no centro, atabaques, agogôs, turbantes, colares, roupas brancas e uma mistura rítmico-cênica que remete a uma cerimônia do candomblé. Depois de Cabaré da Raça e Ó pai Ó, marcos importantes na dramaturgia baiana, pintadas com a cor, sofrimento e alegria dos negros, Bença toma rumo diferente da denúncia social e do processo de invisibilidade que acomete a negritude – o que não significa, sob hipótese alguma, ausência desses aspectos. Agora, o principal volta-se para o íntimo do ser humano, para as suas crenças, seus ritos e entendimentos sobre a inexplicável experiência que é viver.  Assim é que as marcas que geriram e aglutinaram uma identidade ao grupo se transformam dentro da sua própria matriz, sem se perder.

Enquanto as canções e o texto desenrolam-se nas projeções, colocadas nas extremidades, outros atores aparecem colocando doses de realidade à ficção ou apenas atenuando as fronteiras que porventura existam entre esses dois universos. Quase simultaneamente Makota Valdina, Bule-Bule e outras personalidades negras depõem, sem cortes do entrevistador, sobre esse mundo em transformação e sobre os costumes essenciais do passado. E a ideia embutida na bença, que envolve, sobretudo, respeito, passe a ser o fio condutor das falas. São esses atores, doutores sem diploma, de conhecimento apurado, que perfazem, sem serem didáticos ou clichês, dois dos principais recados do texto: não é possível ter tudo ao mesmo tempo e as gerações mais jovens precisam ter tranqüilidade e paciência para o (re) aprendizado.

As projeções cumprem também a função de ampliar consideravelmente as muitas experiências que o público pode ter assistindo ao espetáculo, deixando claro que não é possível, numa única vez, absorver tudo o que foi apresentado.  Embora fique a percepção de que é possível revisitar a peça sobre outra perspectiva completamente diferente, até mesmo mudando de posição no teatro, esse excesso de informações eventualmente cansa. Em todos os cantos algo inusitado está acontecendo, alguém está expondo os pensamentos e o espectador tem o seu foco e concentração repartidos e quase dispersados. O áudio de alguns trechos também dificulta o entendimento da história, o que é desagradável, especialmente, numa peça em que a narrativa não é linear.

Sem os habituais agradecimentos ao público, os atores se retiram um a um do palco. Até então fica a dúvida se de fato o espetáculo efetivamente terminou. Assim, com as luzes ainda apagadas, os espectadores também se encaminham para a saída, um a uma, de acordo com o seu tempo. Nesse final discreto, nem a vida nem arte que pode imitá-la acabam, apenas continuam em outros espaços e em outros tempos.

Hoje é o último dia. Corre lá!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um abraço negro

Gostei dessa foto. A ideia era flagrar o velhinho dormindo enquanto metade dos presentes denunciavam as mazelas das comunidades quilombolas. Daí, ficou algo meio bob marley, meio mãe estela, meio che guevara. A vida real e de viés.

sábado, 20 de novembro de 2010

Eia Zumbi

 O dia é de Zumbi, o texto é de Vírginia, a foto é minha.

"Vivemos nossas vidas, fazemos nossas coisas, depois dormimos - é simples assim, comum assim. Alguns se atiram da janela, outros se afogam, tomam pílulas; muitos mais morrem em algum acidente; e a maioria de nós, a grande maioria, é devorada por alguma doença ou, quando temos muita sorte, pelo próprio tempo. Existe apenas isto como consolo: uma hora, em um momento ou outro, quando, apesar dos pesares de todos, a vida parece explodir e nos dar tudo o que havíamos imaginado, ainda que qualquer um, exceto as crianças (e talvez até elas), saiba que a essa seguir-se-ão inevitavelmente muitas outras horas, bem mais penosas e difíceis. Mesmo assim gostamos da cidade, da manhã, e torcemos, como não fazemos por nenhuma outra coisa, para que haja mais." (Virginia Woolf)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Salvador em Cena

Fazer uma resenha de teatro é muio pior do que eu pensava. Essa foi a primeira, vale essa ressalva já como um pedido de desculpas. Até porque elogiei demais a peça e ela tem alguns probleminhas sérios. Sem contar que só me sinto apto a falar do conteúdo e da estrutura da narrativa. Muito pouco dos atores, interpretação, cenografia e coisas técnicas do gênero. Vamos aprendendo, não é mesmo? Depois acessem o www.salvadoremcena.com.br .

Trilogia Shirley usa o humor para desnudar a família

Por Gilvan Reis
Na moderna família brasileira sobram aparências e faltam essências. É esse o principal recado deTriologia Shirley, em cartaz no Teatro Módulo desde aúltima quinta-feira, dia 4. Levar aos palcos o drama e a teia de mentiras que estruturam o cotidiano e os laços familiares é sempre um risco. Pode-se enveredar por uma trama recheada de clichês e de discursos políticos superficiais, beirando o maniqueísmo. O desafio de olhar a questão sobre outros prismas, para além do bem e do mal, da absolvição ou da condenação das pessoas envolvidas, é um exercício que exige no mínimo perspicácia – seja do autor, do diretor ou do corpo de atores.
Nesse momento, os 20 anos de experiência de Cláudio Simões funcionam sob medida. O diretor, cuja trajetória esteve sempre ligada à comédia – excetuando-se aqui duas passagens pela dramaturgia com teor político mais visível nas peças  e Nada Será Como Antes – dosa três histórias permeadas de sordidez e degeneração moral com humor. O humor, vale a ressalva nesse caso, ao invés de descambar para a galhofa ou para picardia generalizada é um mecanismo para que o espectador aceite com mais facilidade e menos pesar o que está sendo exposto. É também uma concessão gentil do diretor, que permite ao público o reconhecimento de si e de suas vivências no enredo sem que isso soe como uma ofensa gratuita, despropositada.
Simplesmente Shirley, Totalmente Shirley e Finalmente Shirley, são costuradas a partir de alguns eixos: pais embevecidos pelo poder e dinheiro, filhos quase sempre dependentes, imaturos e excessivamente carentes e empregados reproduzindo fielmente laços escravagistas com direito, inclusive, a rebelar-se. Tudo isso perpassando questões como gravidez precoce, homossexualidade, violência sexual, casamentos frustrados, mentalidade ultra-conservadora, traições e uma disputa acirrada pela sobrevivência no mundo cão.  Assim é que o convite para entrar nesses lares deixa a mostra que, mesmo diante de uma guerra, mesmo com o mundo inteiro desabando sobre a cabeça das pessoas, nunca se deve esquecer da reputação, da boa imagem e, evidentemente, do brinde de champagne no grande final.
De repente, não mais que de repente
Uma vida pacata, quase asséptica, irretocável pela moral e pelos bons costumes que zelam uma época. De repente, a visita de um amigo ou uma gravidez indesejada com um comunista, fazem ruir os frágeis pilares de um núcleo familiar. A partir daí, tudo se degringola numa sucessão de fatalidades que naturalmente só podem conduzir a mais desequilíbrio. As surpresas no texto são – e precisavam ser – sempre desagradáveis, tecidas com requintes de uma loucura aceita e compartilhada pelos personagens e pelo público.
Nas três casas, todos os nomes começam com a letra ‘S’. Entram em cena Sílvia, Sarah, Simão e outro punhado de personagens. Shirley, entretanto, nunca aparece. Mas o seu não comparecimento não diminui o seu protagonismo. Ela é sempre o contraponto. É a criança ou a mulher que se torna o elemento capaz de trazer um pouco de lucidez aos envolvidos nos episódios. Shirley funciona como o chamado que move a vida dos que ali se apresentam. É dessa maneira que se constrói e se específica na sua totalidade: Simplesmente Shirley, Totalmente Shirley e Finalmente Shirley, que encerra a peça.
Nessa interação, a troca de cenários é o mote para que todo o elenco transforme seus personagens. Funciona como uma grande inversão: quem é filha vira mãe, a mãe passa a ser a filha grávida, a empregada passa a ser a patroa, etc. O mais sutil e irônico movimento é que alguns traços e trejeitos permanecem embutidos nos personagens independe da posição social que ocupe.
No momento em que se cultua o vale-tudo do besteirol, Trilogia Shirley, embora perca fôlego e nem sempre use da sutileza para provocar o riso, acena para um cenário não mais de resistência, mas de novas possibilidades para o teatro baiano. E é provavelmente esse o seu grande mérito.
Trilogia Shirley
Onde: Teatro Módulo (Av. Magalhães Neto, Pituba)
Período: Quintas, às 19h e 21h
Ingressos: R$ 30 e R$ 15

Morreu poeta

Só soube hoje que  Ildásio Tavares, poeta baiano, um dos meus preferidos, morreu no começo de novembro. 

Não existe hora certa, existe o meu relógio,
Lembrando sempre com seu tic-tac
Que há vida
Para ser vivida,
Que houve a vida
Que não se viveu.
Não importa que o rádio renitente ruja
São tal hora e tal minuto
Hora oficial,
Afinal.
Que há de oficial em minha vida?

Somente,
Quebrando a paz exata deste espaço,
Levando a mim à frente, sem retorno,
A tiquetaquear meu ser-serei,
Existe o meu relógio, –
pulso falso,
Sensato solilóquio, lento certo,

Que canta
O canto
Do tempo
Que é meu

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dos que vivem


Por fim, entendeu que nenhum dos seus amores poderiam acabar.  Se existiram, teriam que enfrentar todos os desvarios de viver para sempre em horas flutuantes. Sabendo disso, encheu-se de um ligeiro contentamento: estava nos outros, atravessando ruas, assoprando vendavais, cortando tempos, respirando um único e todos os mundos de uma só vez. Era isso: amor.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Trilogia Shirley

Dai que Antônio Pitta, 'broder amigo', me colocou pra trabalhar no seu projeto de TCC. Evidente que a as preocupações e angústias dele não cabiam em si, logo nada mais oportuno do que jogar para os outros também. Exatamente o tipo de coisa que eu faria -  não é a toa que rola afinidade.

Não deu tempo de pensar muito para decidir. Como pretendo seguir o caminho da venda dos serviços corporais e como não sei dizer 'não' assim tão facilmente a um "broder amigo" que está na Universidade desde a invasão do campus em 16 de maio de 2001, aceitei o pequeno fardo. Gente, nunca fiz crítica de teatro na vida e agora aqui: http://www.salvadoremcena.com.br/ vocês poderão se iludir diante dos meus parcos conhecimentos e do meu embrotation artístico. Que fique claro que se não rolar ilusão, levanto da cadeirinha e continuo no lucro: nunca disse que poderia fazer o contrário. Mas então, gentchi lynda, acessa lá e ajuda.

Virá que eu vi

Caetano  é uma das coisas mais estupendas que esse recôncavo poderia inventar.  Dois dias seguidos assim me deixaram mal acostumado.Até Santo Amaro.


Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Bença


Uma das peças mais bonitas desse ano é 'Bença', em cartaz no Teatro Vila Velha. Sutil, profunda e absolutamente comovente. Pra ficar horas pensando na vida, na sabedoria dos doutores sem diploma, nos pretos velhos, no tempo e no mar que vai e volta, volta e meia vem e vai. Corre lá, minha gente: é pura beleza!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Onde o sol nascente nem sempre é tão belo

Não precisa proibir o livro. Sítio do Pica Pau Amarelo tem passagens lindas. Agora só não queira me convencer que uma pessoa que sustenta uma sobrancelha dessas não é racista. Porque daí, né, o bigodinho de Hitler vira cicatriz de Harry Potter. So sweet.


Tá pensando que é bagunça?


Caetano Veloso por Anita Malfati. Eu sei essa mistura está mais pra Festival de Verão Salvador (Mistura Aê!) do que para a antropofagia cultural do Modernimo Brasileiro. É o vale-tudo pós-moderno.

das lembranças da tarde


Como uma sentença impronunciável, por guardar em si tanta verdade sem sabor de mundo, pensou no absurdo que era ter saudade do futuro. Mas era isso que sentia. Saudade de quem viria, das coisas que guardaria na estante do quarto, da varanda da casa, de pisar nas folhas secas do outono que chegaria, dos livros que cantariam versos. Saudade. Sim, era isso tudo.

Friday


Pelos caminhos que ando um dia vai ser. Só não sei quando

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Novembro

 
No dia de finados, nasce o verão.