Quando ela partia, era como se o mundo inteiro virasse poeira. Todos os dizeres pareciam apequenados e fatalmente irritantes. Não importava quem os dissesse ou mesmo os seus intuitos e desejos. As coisas faladas agora enchiam o mundo de peso, roubavam-lhe a leveza que ela havia deixado. Se debatendo para não admitir esse momento, lançava-se impiedoso contra todos. Em ataques furiosos daquilo que poderia ser um pouco de mau humor ou rebeldia desconhecida, atacava para sentir a vida. Queria mesmo pensou, era impedir todos, segurá-los pelo braço e lavá-los com alguma humanidade que nele restara. Havia sido, então, somente isso. Um punhado de pessoas desfazendo-se nas miudezas, sendo apagadas por muito pouco, acreditando em suas crenças quase inúteis, sonhando os desvarios de uma loucura completamente apodrecida. Vendo essa barbárie sem rumo, atravessou o outono. Lá ainda era primavera.
O primeiro atingiu a pálpebra esquerda, trazendo-lhe o desconforto de estar no mundo. O outro caiu vertiginosamente contra a estrada que seguia. Vendo-o se transformar em nada, se desfazendo diante daquilo que poderia ser a imensidão, sentiu o infortúnio de rasgar-se em vida. E agora que existia, poderia contar algumas histórias
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Há uma semana
Antes que o relógio pudesse marcar seis horas e que a Ave Maria anunciasse no rádio o repouso do dia, trouxeram a notícia de sua partida. Lá já se reconhecia que tudo sempre é repentino, súbito, e que a morte é por excelência o ato mais dramático dessa peça que vivemos. De repente, ficou ali naquele ventre o desespero se debatendo em grunhidos, um pouco de sangue tentando alimentar uma vida que já não existia. Deitado, tremendo, tal qual ela deve ter tremido, fechando e abrindo os olhinhos como sempre fizera, pensaram juntos em tantas coisas. Ele levantou-se e ela se foi. Não poderiam compreender esse manto invisível que nos cobre e que nos leva ao ser. Diante disso, desse medo, desse não saber, viviam. E para viver também era preciso ir.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
De Janeiro a Janeiro
Como se retoma a vida que se tinha outrora?
Como se continua a viver quando, lá no fundo do coração, se
começa a perceber que não se pode voltar atrás?
Que há coisas que o tempo não cura...
Como se continua a viver quando, lá no fundo do coração, se
começa a perceber que não se pode voltar atrás?
Que há coisas que o tempo não cura...
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