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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Puxando o cabelo, nervoso

Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim.


domingo, 5 de setembro de 2010

Difícil é fazer diferente



Depois que as mais de 17 câmeras de última geração instaladas em pontos estratégicos do Madison Square Garden, em Nova York, foram desligadas e que a tsunami da euforia levou para casa os 15 mil pagantes de ontem, dia 4 de setembro, é oportuno (e justo) pensar na carreira de Ivete Sangalo. Falado por 11 em cada 10 veículos de comunicação do país, o espetáculo foi, sem dúvidas, o show mais esperado de 2010. Com tantos elogios e, evidentemente, demonstrações explícitas de puxa-saquismo, Ivete pretendia, com esse trabalho, ser um marco brasileiro dentro da cultura de massa americana – algo feito, dentro de seus respectivos quadrados e gêneros , claro,  por outro juazeirense, João Gilberto, nos anos de 1950 com a bossa-nova.
Embora se tentasse recobrar, digamos, a lucidez diante de tantas expectativas e devaneios dos milhões de fãs que tem no Brasil, ninguém, nem Ivete, nem Jesus, nem a Caco de Telha, nem mesmo a TAM, escondia que esse seria o salto mais desafiador de sua carreira e a possibilidade ímpar de abrir as portas, ainda muito restritas para a sua música, no exterior. De fato esse era e continua sendo o desafio imposto e que, a julgar pela noite de ontem, está bem longe de ser superado.
Com investimentos batendo a marca dos R$ 5 milhões (Quantos podem bancar essa cifra?), o show no Madison poderia ter primado pela ousadia, pela inovação. Se foi um risco empregar tanto capital (simbólico e material), que, pelo menos, o risco fosse vivido até a última gota. Se foi um desafio e todas essas incontáveis pessoas coadunaram com a possibilidade de enfrentá-lo que se buscassem saídas mais criativas e mais originais. O que se viu,entretanto, pelos vídeos já lançados na internet, pelas informações presentes nos principais meios na manhã desse domingo, é que Ivete optou pelo mais do mesmo, pelo caminho mais seguro e do retorno garantido.
Feijão com Arroz
Mesmo com todos os efeitos, da cenografia, da montagem e de todo preparo exigido na composição do show, a sua essência foi a mesma que a de outros. As canções, inclusive, se repetiam sucessivamente. Certo que num estilo que ainda se pauta pelo “pula, sai do chão”, música conhecida é o elemento mágico infalível para encher de alegrias mil qualquer televisor. Apesar disso, num cenário em que pouco se cria de novo e que, paralelamente, tanto clama por novidades e tem sede de inovação, a ousadia de dominar o público pela surpresa é o que pode, aparentemente, garantir boas transformações e novas musicalidades. Pelo menos, é isso que se atesta nos últimos 60 anos da música popular brasileira. 
Não é que estejamos aqui repetindo os argumentos superficiais, pueris, de que é vendida ao sistema, de que é produto, de que é caça-níquel. Da indústria cultural, nem o Teatro Mágico, que diz sobreviver com bilheteria e venda própria de cd’s, escapa. Isso, creiam, nunca foi necessariamente ruim – exceto para Adorno e para a Teoria Crítica. Tantos outros que se vendem como alternativos são muitos mais submissos e entregues aos ditames do mercado do que Veveta.  Até porque sejamos realistas:  se existe alguém que pode dizer o que quer e o que não quer fazer, hoje, na música brasileira, esse alguém tem nome e residência fixa no Campo Grande, em Salvador (E, não, não é Gal Costa). Não desmerecendo seu talento, mas é desse contexto que surge a frustração.
Frustração pelo feijão com arroz – já tomando parte aqui do álbum homônimo de Daniela para um inevitável e sempre temida palavra: comparação. Costuma-se dizer, na Bahia, que La Mercury é parâmetro para as demais. Longe das rivalidades levianas e da troca de farpas dos fãs mais ardilosos, as comparações quase sempre precisam aparecer para termos referências. E o que a gente nota é que não ter medo de vaias, não ter receio de críticas dissonantes e de entrar num círculo “onde-queres-leblon-sou-pernambuco” é um passo necessário para a reciclagem do artista e da sua própria arte. Por trazer as velhas fórmulas e inserí-las em algo que só é grandioso pelos valores monetários aplicados, essa virada que Ivete poderia trazer foi, novamente, adiada. A cobrança poderia ser exagerada se esse trabalho não se propusesse a tantas complexidades: é uma mulher, latina, nos Estados Unidos, cantando basicamente em português, num formato diferente das ‘divas americanas’, etc e tal - sendo ela, inclusive, melhor do que a maioria desses produtos esterializados.  
Tem seu preço inovar? Claro que sim. Pode sucumbir na sua própria loucura ‘vanguardista’? Pode. Pode desagradar fãs, pode até perdê-los, pode conquistar inimigos? Pode.  E ser rotulada de perdida e outras expressões não tão nobres? Certamente será. Mas esse também  pode ser um preço justo em nome do compromisso que se tem com a sua arte, com sua criação, com a cultura, enfim, com o seu povo. Quando se tem compromisso com isso, que fique claro.
Talvez o temor de uma aparição discreta ou de uma carreira internacional fugaz tenham impelido para que a sua inserção recaísse sobre a colônia de brasileiros.  Não são poucas as  tentativas mal-sucedidas de nossos artistas . Vencer uma barreira de preconceitos não é suficiente: é preciso mostrar qualidade, dialogar musicalmente com quem nada entende de sua língua. Desse pecado, por exemplo, padeceu a dupla Sandy & Junior, engolidos pelo desequilibrado tripé da maturidade, da originalidade e da criatividade.
Reinventar as formas
É inegável que a sua trajetória na música brasileira tem sido vitoriosa. Depois de lançar-se solo, no momento em que o Axé Music dava passos vacilantes, Ivete traçou um rápido caminho para o posto de mais importante artista do show business brasileiro. Rápido, nesse caso, é pura modéstia: foi avassalador mesmo. Aproveitando o excelente momento em 2002, com a vitória surpreendente do Brasil na Copa da Coréia e do Japão, cravou nos corações e mentes dos 180 milhões de brasileiros a música Festa. Em seguida, as multidões que a seguiam no carnaval da Bahia, a acompanharam nas maratonas dos estádios brasileiros: primeiro o disco da MTV, na Fonte Nova (último gravado lá antes da demolição) e, logo depois, o DVD Ao Vivo no Maracanã, uma mega produção raramente vista no país.  Uma pausa para o suspiro e para a gravidez e veio o singelo Pode Entrar, que entrou no mercado fonográfico superando, em definitivo, qualquer dúvida sobre a força de Ivete.  Nesse ínterim, teve ainda o disco infantil gravado com o sempre razoável Saulo Fernandes. Com canções do nível e qualidade de Funk do Xixi, esse álbum é a flecha no calcanhar de qualquer Aquiles e merece cair nas graças da Inquisição.
A apresentação de ontem foi uma etapa importante da carreira de Ivete...da carreira dela aqui no Brasil. Com um nome consolidado e um espaço intocável, Ivete tem todo poder e legitimidade para continuar cantando Sorte Grande, Pererê e afins por todo país. Mas se de fato tem como pretensão ser um artista do mundo, já se viu que, com todo respeito e amor pelo carnaval baiano, ser somente Barra – Ondina ainda é muito pouco para qualquer Big Apple.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Obaluaê


Só mesmo em Salvador para o trânsito ser interrompido na segunda-feira por um trio elétrico. Só mesmo em Salvador para um padre estar nesse mesmo trio gritando loucamente: VIVA JESUS CRISTO! VIVA SÃO ROQUE! E, definitivamente, só mesmo em Salvador para um multidão de fiéis responderem em coro uníssono ao mesmo padre serelepe, que estava no mesmo trio, no mesmo trânsito, dessa forma: "SALVE OBALUAÊ, SALVE O SENHOR DA TERRA!". 

Trilha Sonora da Festa de São Roque: Let it be, dos Beatles, em ritmo de arrocha. Todo mundo cantou a letra toda, embora 90% das pessoas conheçam tanto de John Lenon que poderiam confundí-lo INRI.

Comida da Festa: Esse caruru delicioso-oso-oso mesmo que comi no Terreiro de Mãe Iara, em Cajazeiras XI.

Daí fica difícil não amar uma cidade que mistura Beatles com Candomblé, Padre com Orixá, Caruru com Coca-Cola.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Andar com fé, eu vou.

Recém formado, quase desempregado e semi pobre. Dai que pessoas sensatas deveriam ficar em casa, comendo farelos, vendo novela, sessão da tarde e enfiando o nariz nos classificados. De repente se ela fosse disciplinada estudaria para um concurso ou se tivesse uma rede de contatos pediria emprego por indicação. Até teria algumas dessas qualidades (qualidades? oi?), mas faço isso? NOT. Comprei uma passagem pro Rio de Janeiro e estou aqui contando os dias para a Festa da Boa Morte, em Agosto, na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano. A festa é uma coisa linda - e o licor também. Mas, pera lá, né? Hoje ainda é 14 de julho. E 14 de julho é dia de Open House. Nesse calendário pré-carnaval 2011 significa que até pode ter espaço para queda de cabelo, porres homérico, pra 7 de setembro, dia de finados e até para tiroteios e confusões, mas não tem pra desespero não.

domingo, 22 de novembro de 2009

No reino da beleza


"Gente bonita" é possivelmente a expressão mais sutil que a classe média usa para expressar seu desagrado com gente preta de cabelo trançado. Tocar novamente no âmago do racismo pode até parecer repetitivo e apelativo, já que estamos no novembro negro. O mote para esse escrito, no entanto, é a recorrência com que escuto alguns desorientados de fora da Bahia (ou de dentro) se espantarem com a suposta feiúra do povo, especificamente, daqueles que circulam pelo Pelourinho, Cidade Baixa e Invasões. Preliminarmente, a acusão genérica não tem eco numa realidade que é tão plural e diversa. Notem que não estou caindo no simplismo de apenas dizer que na Bahia não há feios, se é que podemos lidar com essa terminologia. O meu exercício aqui é destrinchar que por trás dessa fala se esconde uma ideologia. É o que Roland Barthes trata no seu texto clássico Mitologias. Dizer que os baianos são feios esvazia de historicidade o conceito de beleza, de negritude e de afirmação da cultura. Mas, ao esvaziar de sentido, produz a ressignificação. E aí, crescem as raízes da discriminação racial.

Percebam que se a festa cool, com convidados da classe média e alta, tem "gente bonita", de antemão nós sabemos que se trata da branquitude subserviente ao modelo hegemônico de beleza. Por outra via, se o aglomerado humano se balança ao som do pagode e deixa ao vento seu rastafari a primeira coisa dita é: "deus me livre! Só tem gente feia e pancadaria". O que pode ser traduzido, sem nenhuma reserva, como só tem preto. Entretanto, no Brasil, racismo bom é racismo estrututante. É aquele que se esconde na base das instituições e que se firma nos laços societários com poucos vestígios de sua presença. Somente um olhar apurado torna capaz de desnudar a falsa naturalidade. É, precisamente por essa razão, que quando alguém fala só tem "gente bonita", o sujeito constituído não se sente racista - ele consegue distinguir pessoas belas das feias porque sabe, por exemplo, que a Mãe Menininha é feia, a Deusa do Ébano é exótica e Gisele Bunchen é bonita.

Se racismo nesse país é coisa de negro, eu como um, quero ser racista pra dizer: na Bahia só tem gente bonita.