quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eu faço tudo exposto à tempestade

Setembro rodou num instante e num instante que não me permitiu o dar-se conta. A verdade é que tentar negar o meu direito de decidir, por não quer fazer tantas escolhas e enfrentar tantas conseqüências das quais não tenho controle, tem me assustado. Na minha frente, vejo gente sendo atropelada sem reação. É uma plataforma em que o trem não poderá partir porque lhe faltam trilhos a serem percorridos. Olhando para os dias de ontem, hoje e a amanhã, é que se nota que a vida não dá nem a certeza da morte, só da decisão.

A agenda comprada no começo do ano funcionou até julho. Não tenho disposição para organização de atividades, cronogramas e horários absolutamente rígidos dividindo o que você faz e o que você é ou o que você gostaria de ser. Quando me submeti a esse modelo, estudei história com o mesmo afinco que matemática, passei no vestibular e entrei na universidade. Segmentar a vida assim me parece agora empobrecedor – embora não restam dúvidas de que, nesse mundo, quem assim o faz tenha um presente e um futuro mais certo.  Dessa dignidade, suja pelas vaidades, pelas fantasias e pela falta daquilo que é mais verdadeiro, não respiro.

Agora vou seguindo assim. Tentando planejar alguns passos, descobrindo gostos, me bagunçado todos os dias para não cair na adaptação de mim mesmo. Refazendo-me com o cotidiano das grandes cidades que parece quebrar você ao meio impiedosamente. Aqui, por qualquer mínimo detalhe, já sou a pessoa mais vulnerável do mundo. E a sensação de desamparo, aquele sabor cruel de que no fim das contas é só você com e contra você mesmo, tentam me apagar nas primeiras esquinas. É nessas horas que a vontade de chorar e desistir de tantas coisas, simplesmente porque elas não têm tanta importância, me abraçam de forma calorosa.

Tenho repousado meus olhos sobre A Vida Está em Outro Lugar. Pela necessidade de fulga, talvez. Ou pela absoluta convicção de que a obedecer de forma é-assim-mesmo o que aí está me parece um sinal de morte anunciada. Não se levam apenas os nossos dias, mas a nossa humanidade, a liberdade que aqui dentro insiste em querer correr mundo, em inventar saveiros e em partir. Apesar das ondas calmas ou violentas jogarem contra a imensidão, há sempre uma corda puxando o barco de volta para o ancoradouro. É dessa volta, da repetição desmesurada, que tenho medo.

Li há pouco o relato de um querido amigo vivendo nas montanhas – talvez escreva agora por ele. Queria, às vezes, ser forasteiro de mim. Abandonar essa máquina que me engendra e me faz ser e me movimentar no mundo. É desse risco de existir que quero viver. Dessa sede de ausência que me torna existência e que faz nascer a primavera. 


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