
Na semana da Consciência Negra, Manoel Carlos deu o seu recado para a militância e simpatizantes da causa: continua tudo igual. Para não cair no sectarismo, quase tudo igual. A mucama comete um crime do qual não é culpada, pede perdão à senhora e, não suficientemente humilhada, se ajoelha para receber uma bofetada violenta. A personagem açoitada chama-se Helena, nome cuja tradição nos nossos canônes literários e televisivos remete a uma senhora branca e elitista. A cena se desenrola com hostilidade e com uma ameaça velada: ou se comporta ou vai pro tronco.
Não, a novela não se passa no século XVII. A Helena, de Manoel Carlos, é uma mulher pós-moderna e pós-racial. Aqui os rótulos não são meramente adjetivos, mas uma liguagem extremamente refinada, pensada e naturalizada para esconder o racismo estruturante e celebrar, sem o menor constrangimento, o mito da democracia racial. Escapando do combate, Gilberto Freire vive. Talvez o maior celeuma deixado de legado pelo episódio é o reforço veemente à ideia de que o senso de justiça, que nesse caso nem existe, é muito superior as questões raciais, e que, consequentemente, são dois polos intocáveis. Ora, é a história e o presente que nos mostram o quanto esses elementos estão tão intimamente vinculados ,que é impossível dissociá-los sem afetar consideravelemente o outro.
Manoel Carlos despreza estupidamente a realidade em nome de sua ficção que, curiosamente, se pretende ser realista. Respeito a licença poética e a criação, embora não respeite o silêncio frente ao racismo. Poderíamos mesmo imaginar o contrário? Subverter essa relação? Se a negrinha estivesse no lugar de Tereza, e o golpe fosse desferido contra a mulher branca, a moral e os bons costumes mandariam surrá-la na primeira esquina. E, como no Leblon, as pessoas confundem atores com personagens, Thaís Araújo correria o risco de ser massacrada na vida real. Essa sempre foi a forma deles de sufocarem o que é da ordem da historicidade. Foi o negro brutalmente escravizado e ojerizado. E foi também, na dura resistência de 5 séculos, que estamos vivos pra contar uma outra novela. O tapa foi dado em Helena, mas doeu em todos nós.
Não, a novela não se passa no século XVII. A Helena, de Manoel Carlos, é uma mulher pós-moderna e pós-racial. Aqui os rótulos não são meramente adjetivos, mas uma liguagem extremamente refinada, pensada e naturalizada para esconder o racismo estruturante e celebrar, sem o menor constrangimento, o mito da democracia racial. Escapando do combate, Gilberto Freire vive. Talvez o maior celeuma deixado de legado pelo episódio é o reforço veemente à ideia de que o senso de justiça, que nesse caso nem existe, é muito superior as questões raciais, e que, consequentemente, são dois polos intocáveis. Ora, é a história e o presente que nos mostram o quanto esses elementos estão tão intimamente vinculados ,que é impossível dissociá-los sem afetar consideravelemente o outro.
Manoel Carlos despreza estupidamente a realidade em nome de sua ficção que, curiosamente, se pretende ser realista. Respeito a licença poética e a criação, embora não respeite o silêncio frente ao racismo. Poderíamos mesmo imaginar o contrário? Subverter essa relação? Se a negrinha estivesse no lugar de Tereza, e o golpe fosse desferido contra a mulher branca, a moral e os bons costumes mandariam surrá-la na primeira esquina. E, como no Leblon, as pessoas confundem atores com personagens, Thaís Araújo correria o risco de ser massacrada na vida real. Essa sempre foi a forma deles de sufocarem o que é da ordem da historicidade. Foi o negro brutalmente escravizado e ojerizado. E foi também, na dura resistência de 5 séculos, que estamos vivos pra contar uma outra novela. O tapa foi dado em Helena, mas doeu em todos nós.
4 comentários:
Doeu muito mesmo.
Realmente este texto ficou muito bom mesmo. E preciso reagir contra as sórdidas manipulações impostas pelas Organizações Globo.
Talvez uma das cenas mais deprimentes de que eu tenha prestados atenção em novela. Como não acompanho tive que ver o video...
O que vi foi a negra rica que chegou a alta sociedade, culpada por não ser forte e tolerante o suficente para aturar a bruguesa de sangue; onde o sofrimento pelo acidante, não é caracterizado como fruto do seu mau comportamento e sim da fraqueza dos outros( o de Helena) por não à aturar...
A Alienação é incrivel, até na fotografia onde a Thais Araújo, aparece em trajes simples, tons claros e sem maquiagem, e a outra atora (desculpa não sei o nome), aparece maquiada e bem trajada, o ponto maximo da cena, é a submissão, subordinação aos caprichos da matriarca... que defende sua prole, obstante de qualquer culpa da mesma.... Onde mesmo prostada recebe a bofetada, vc é a culpada do seu sucesso e do meu fracasso... a inversão do papel natural das coisas...
"Negros vcs são os culpados pelo próprios e nossos sofrimentos"
Pois bem, a composição da cena, enquadramento, figurino e diálogo são abomináveis.
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