
Tenho a impressão de que carrego sempre uma placa com luzes em néon escrito: falem comigo. Na primeira vez que parei e fiz essa constatação foi quando um ser não muito racional berrou, raivosa, no meu ouvido: “Os pecadores vão pras TREVAS do INFERNO”. Dias depois, uma mulher vulgar me viu passando com óculos escuros num dia nublado e...: “Eta, mas hoje está fazendo um sol que é uma beleza!”. A idéia de que eu carregava um cartaz subia, então, de status: agora era minha tese pessoal. O primeiro teste de sua veracidade foi na semana passada. Uma daquelas criaturas mal pagas que ficam na rua fazendo cartão do Itaú estava silenciosa, com a maquiagem toda derretida e com cara de quem topa comer qualquer pratinho de feijão com arroz. Com colher, claro. Acontece que várias pessoas passavam e ela quase não abria a boca. Isso até eu passar. Juro que a rua praticamente parou pra ver de onde estava vindo o tiroteio. O grito era atropelado, insano, algo do tipo: “VENHAAAAAAAAAA JOVEEMMM, VENHAA FAZER O SEU ITAÚ CARDIII! É AQUI MESMOOOO”! A única coisa que se pensa nessas horas é: "consciência, eu morri!".
Como se já não bastasse a conclusão verdadeira de minha tese, ontem tive a evidência de que não há nada suficientemente ruim que não possa ficar pior. Sem nem me dar conta da existência daquele ser, passei, muito apressadamente, por um cara empurrando o carrinho de cachorro quente (ou algo do tipo), quando ouço descaradamente e intencionalmente um: “Que delícia!”. Céus, aquilo foi o fim. Acho que se eu andar nu, as pessoas notariam menos. E eu nem contei dos inúmeros trombadinhas que tendo um leque de possibilidades para assaltar as pessoas, resolvem, SEMPRE, me abordar.
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