sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Parede


Eu quero um livro que não tenha nada escrito. Um texto que eu possa olhar e só contemplar a brancura do papel. Que não tenha absolutamente nada a ser lido, entendido e pensado.  Esse livro tem que ser como um espelho de tudo.  Para que quando eu olhe, imagine a história que está ali escondida e que não a acho. Para que crie os personagens e os veja transitando de folha em folha até o derradeiro final, que não poderá ser mais do que um começo invertido. Esse livro poderá mostrar-me a aspereza da vida e a crueldade de alguns verdugos. Mas é justamente na sua face mais reflexiva, na superfície mais escancarada que eu quero descobrir a relevância de tudo isso que agora está aqui fora: a relevância do nada. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Misty

Creio que o pior castigo da solidão seja justamente descobrir-se. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nos Caracoles


Toda a vida parece traduzida nessa estrada : ainda que dê muitas voltas em torno de um imenso precipício, que faça prender a respiração a cada curva e que levante um pouco da poeira, nos consternando com um cenário tão grandioso, distante e, ao mesmo tempo, tão íntimo, a estrada, a estrada...só segue.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sagrado

No silêncio, escutou o canto mais bonito. Eram rimas de profundo amor, eram versos sobre aquilo que é mais importante em toda a existência: o nada. Naquele instante foi deslizando-se para o ar, desfazendo-se em vento. E todo seu corpo sentia essa liberdade, esse estranho regozijo que para alguns é crença, e para outros não pode ser mais do que o instante célebre da larga caminhada.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Da volta

Tantas coisas eu tenho a contar que coloco tudo num pedacinho de mar.  Que é pra deixar assim mesmo à deriva e ver tudo partir pra alguma paragem distante a procura de um abraço, de uma grama verde, de uma montanha silenciosa, de um rio pedregoso, de uma acerola colhida do pé pelo vento. Um dia eu também parto para esse lugar, a reencontrar-me com tudo o que foi e que segue, a reencontra-me com o todo sem começo e sem fim.