A resposta a todas as questões da vida e da morte, “a solução absoluta”, estava escrita no mundo inteiro que ele conhecera, era como se um viajante percebesse que a região inóspita pela qual viajava não era apenas um conjunto acidental de fenômenos naturais, mas a página de um livro onde aquelas montanhas e florestas, campos e rios, se achavam dispostos de modo a formar uma frase coerente; a vogal de um lago a fundir-se com a consoante de uma colina sibilante; as curvas de uma estrada a escrever a sua mensagem numa caligrafia, tão clara quanto a letra de nosso pai; as árvores a conversar numa linguagem de mudos, compreensível aos que aprenderam a linguagem dos gestos...Assim, o viajante soletra a paisagem, e o seu sentido se lhes revela; do mesmo modo, o intricado o desenho da vida humana demonstra ser monográfico, agora bastante claro ao olho íntimo que desamaranha as letras entrelaçadas. E o mundo , cujo sentido sentido então aparece, é espantoso em sua simplicidade – e a surpresa maior talvez consista em que, no transcurso de toda nossa existência terrena, com o nosso cérebro limitado por um círculo de ferro, pelos sonhos bem apertados de nossa própria personalidade; não se fez, por puro acaso, aquele simples movimento mental que teria libertado o pensamento aprisionado, concedendo-lhe grande compreensão. Agora enigma estava decifrado. E como o significado de todas as coisas brilhava através de suas formas, muitas idéias e acontecimentos, que tinham parecido de máxima importância, diminuíam a seus olhos, não a ponto de tornar-se insignificantes – pois que nada agora poderia ser insignificante- mas chegando ao mesmo tamanho que outras ideias e acontecimentos, aos quais, antes, negara qualquer importância, agora adquirida.
Nabokov pra essa manhã.
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