quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Da dificuldade em dizer coisas.


O desejo mais óbvio de qualquer estudante às vésperas de se formar é ter muito dinheiro. Quer dizer, acho bem provável que esse seja o desejo de qualquer pessoa prestes a ter uma vida. O que certamente me diferencia das criaturas que agonizam na fila da loteria é que, definitivamente, ter dinheiro não me tiraria apenas da pobreza material. Ainda que, combinemos, isso seja altamente louvável. Enquanto meus pares contemplam o Morada dos Cardeais e se deliciam com a possibilidade de terem seis dígitos na poupança, eu tento calcular se é realmente possível comprar a coleção de Monet, Degas ou Portinari depois de ter montado um museu de Van Gogh para uso exclusivamente pessoal. Com o dinheiro que vou ganhar trabalhando como escravo numa Universidade sucateada, nem falsificações eu conseguirei. Acho que poderia parar aqui com a prosa. Tudo o que eu pretendia dizer era que gostaria de ir embora dessa cidade, desse país, acordar a cada dia num lugar novo, esquecer de muitas coisas e viver um período nas montanhas. E o problema é só um. Veja, eu nem imploro muita coisa. Custa muito deixar Salvador? Não. Custa muito deixar o Brasil? Menos ainda. Conhecer gente nova? É até prazeroso. Viver nas montanhas? Gente, teria maior benefício pra conceder a humanidade do que esse??? Acho que não. Mas eu, entregando o braço em troca de umas moedas, vivo praticamente na linha da pobreza. E não existe nada mais degradante do que receber chicotadas e ser rodeado por pessoas deliberadamente inferiores. Mentalmente inferiores. Incapazes. Posso não abominar todas essas pessoas que viajam para Amsterdam porque acham que liberar maconha é mais legal do que a casa de Rembrandt? Tem outro sentimento que não seja desprezo por todas as pessoas que, sei lá, gastam 3 mil reais ouvindo Bel Marques perder a voz enquanto você não tem 3 mil reais pra chegar até a casa de Neruda em Valparaíso? Pode existir sensação pior do que gente fyna e ryca que fala amega e acha que Vidas Secas foi o maior trauma da escola? Quer dizer, é direito legítimo ficar profundamente aborrecido. Perder a paciência e um pouco da razão. Via de regra, quem sai da vida tacanha pra se banhar na luz, volta correndo pra se esconder embaixo dos lençois. Mundo desigual, have a nice day.

Foto: Maragogipe.

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