domingo, 10 de agosto de 2008

Esse tal de roque enrow


Ontem confirmei minha teoria de que o rock baiano deixa muito a desejar. Muito. E não falo apenas da baixa qualidade de quase todas as bandas, nem das letrinhas amadoras, nem do visual pouco sofisticado, nem das mentes e corações alucinados que acreditam num futuro meio Rolling Stones e que adoram fazer tipos de conhecedores profundos de músicas, acordes e outras babaquices desnecessárias do gênero. Isso conta, obviamente, mas a falta de estrutura decente, de incentivos mais fortes, a falta de grana para ter equipamentos melhores, de gente minimamente capaz de pôr em prática o que aprendeu na alfabetização, bem como um público mais exigente compromete, com mais vigor, esse quadro. Sim, público mais exigente. As pessoas daqui se contentam com meio punhado de jovens problemáticos, vestidos de preto, com cabelos emporcalhados, que se embebedam com São Jorge e se reúnem nas horas vagas, ou seja sempre, em lugares do tipo Nhô Caldos. Isso quando não andam em bandos sorrateiros pelas ruas falando bobagens características. As duas bandas mais conhecidas, Ronei Jorge e Cascadura, que até poderiam merecerer algum reconhecimento por buscar fugir da regra do quanto-mais- incompreensível-melhor, esbarram na velha falta de tudo. E aí, os show se transformam em testes de resistência - som péssimo, barulho excessivo, ruído, dificuldade de entender o que se canta, e uma variedade imensa de casas de shows: Boomerangue e Balcão. Diante de um cenário e de um ambiente como esse você, francamente, começa a se perguntar se isso não faz parte da própria natureza do rock? Se avacalhação e irreverência, nesse caso, não são a mesma coisa? Daí aparece Rita Lee na concha e a gente percebe que não perdeu a lucidez ao criticar implacavelmente o que aqui se tem. Porque o que aqui se tem não é nada, não pode ser nada e não pode durar. Fazia tempo que não me sentia bem num show de rock. A última vez foi no ano de perdi as contas. Rita Lee foi meu novo marco. Sim, foi um belíssimo show. Eu entendia o que ela cantava. Eu conseguia diferenciar o som da guitarra do ruído da bateria e do baixo. Era possíveladmirar o cenário porque tinha um cenário. Deu pra dar risada porque a vocalista sabia dizer coisas mais interessantes do que "eu gosto do iron maiden". E, nesse caso, 35 reais são sempre bem pagos. Sempre. Quanto as pessoas que dizem que o ingresso estava caro, talvez seja a hora de encarar os fatos e perceber que não, nós é que vivemos num país sem dinheiro, que joga ao relento seus melhores artistas, um lugar em que as pessoas historicamente sempre preferiram um porre homérico à cultura. Pra mim, essa história de rock e de tudo e tal é o retrato de um cidade e de um país que de tão "barato" acaba sempre ficando vulgar demais.


Beijos, vou pra João Gilberto!





Nenhum comentário: