domingo, 17 de agosto de 2008

Contando histórias


Eu até tentei começar um resenha sobre Forrest Gump. Vi o filme hoje a tarde - sim, cerca de 14 anos após o lançamento e depois de já ter sido inúmeras vezes repetido pela Globo. Mas eu comprei o dvd e vi. E, bem, eu não estava disposto a escrever, a elogiar o filme, a história, a saudar mais uma vez Zemickis e a dizer que Tom Hanks pode ser um bom ator quando quer. O único problema do filme, aliás, o único problema que eu tive com o filme é que não veio nenhuma contra indicação do tipo: não recomendado para domingos à tarde. E essas coisas sempre são muito graves.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Inventando saveiros


Tudo tem andado como há sete meses atrás. Quer dizer, quase tudo. Não tem mais o carnaval, não tem mais as tantas expectativas de antes, também os meus amigos já não são mais os mesmos, eu nunca tive tão pouca fé nas pessoas e no mundo como tenho hoje, e agora eu passo as horas vagas entre a cama, o computador e um livro sofrível do Neil Gaiman, Coisas Fragéis. Ando sem vontade de tudo e não consigo mais olhar para o quarto, para a cama, para o livro e pra essa vidinha mais ou menos de sempre. Em compensação, nesses sete meses acho que me tornei mais decidido, independente e fazendo menos questões de muitas coisas, deixando aos poucos de precisar fazer tipos pra não magoar pessoas que não mereciam tanto valor ou atenção. Ficaria atordoado com a persperctiva desse ano acabar dessa forma. Então, eu decidi que viajo dia 06 de setembro. Decisão importante tomada a muitos custos e a base de muita determinação. Mas da viagem eu falo depois.
Meu pai e minhas duas dias por parte de mãe ou se preferir meu pai X minhas duas tias por parte de mãe, já que apesar de habitarem a mesma cidade eles se ignoram completamente, querem que eu vá pra Ubaitaba antes de partir. A cidade nunca me soou tão inóspita quanto agora. Eu não gosto mais de lá, sabe? Na infância, deu pra correr, inventar monstros e mundos fantásticos, desenvolver minha imaginação e me arriscar a ser menos ignorante. Mas quando a gente cresce, sob a égide de uma metrópole, as coisas ficam bem diferentes e começamos a perceber que há transformações que alteram o cursos das coisas para sempre, mudanças que sabemos, no íntimo, serem irreversíveis. E, por isso, fico resistindo tanto a voltar. A cidade é moldada nos padrões da desigualdade urbana do Brasil: 1% da pequena população constitui o topo, e 99% sobrevivem com muito pouco e com muitos filhos. Em ano de eleição, a cidade se movimenta porque chega o momento de decidir quem serão os agraciados pela máquina pública com dinheiro e poder. Fora isso, as coisas só conseguem romper o banal e o corriqueiro em época de São João (que eu detesto) ou quando alguns tantos se reúnem em botecos emporcalhados pra falar da vida alheia, o que, definitivamente, não me parece muito interessante. Nas últimas vezes que fui lá, permanecia tanto tempo em casa que quando fui embora senti falta das paredes do quarto. Até mostrar a cara na varanda estava virando raridade. Azul, amiga há algumas datas do Isba, me chamou pra ir pra Ilhéus. Isso me estimulou. Ilhéus pode ser um lugar bom com pessoas certas. Eu também tenho parentes lá. São pessoas legais, bonitinhas, com emprego fixo, que iam me tratar super bem caso quisesse ficar na casa de algum deles ou no hotel da família. Mas não ia dar certo. Faltaria assunto da hora que eu acordasse até a hora do jantar e já não consigo mais puxar assunto perguntando como anda o futebol ou ensaiando piadinhas sobre o fracasso de Felipe Massa na última corrida.
Sob certa medida, esse foi um tempo que deixei de fazer questão de muitas coisas e firmei outras tantas concepções sobre tudo e todos. Sei que isso pode ser passageiro, mas passei a dar muito mais valor a momentos, ao tempo presente e esquecer de algumas coisas e pensar em outras como projetos de vida. E minha vida, nesse momento, passa por sair um pouco do ambiente de casa, de coisas que me ligam a vida pregressa à Salvador, e também dar um pouco de tempo para as pessoas e amigos que tenho aqui - respirar novos ares e ver como as coisas serão quando voltar. E, apesar da gente sempre se divertir muito com coisas toscas e caminhadas torturantes, acho que não vou ver Azul, nem Ilhéus nem Ubaitaba. Mesmo com todos os problemas e toda a preocupação e todo o estresse desses sete meses, agora posso sentir que estou aprendendo a vez de me lançar. Então, viajo dia 6 para São Paulo. Posso ir pra Dublin, estudar inglês e artes, mas posso seguir viagem por toda a América Latina, sonho acalentado antes de Diários de Motocicleta virar blockbuster. Tenho 23 dias para decidir algo muito importante para minha vida e, no entanto, tudo que consigo pensar é no que vou fazer daqui a 30 minutos. E estou absolutamente tranqüilo.
A saudade da escola diminuiu bastante. As pessoas com quem eu queria estar continuam comigo num encontro imprevisto, num telefonema, num recado, numa piada, num ponto de ônibus e nas lembranças. Algumas se afastaram e naturalizei isso como sendo apenas caminhos que se encontram durante uma longa jornada, mas que se separam quando chega a hora. Por mais que as pessoas não se vejam, não se falem, não se olhem, existiu um momento, impossível de ser apagado com ódio, em que estiveram juntas e isso, acredito agora, tem um peso muito forte na continuação da nossa caminhada. Por outro lado, outras pessoas chegaram e ando refletindo sobre o efeito que elas tem provocado em minha vida. E é bem assim que tenho passado minhas horas, meus dias e meus sete meses: pensando, agindo, roendo unhas, aproveitando os dias, as festas, a praia, essa cidade linda e algumas tantas pessoas que ainda valem a pena.


Essa é uma das músicas mais bonitinhas que eu descobri indo num desses inúmeros shows desse ano:

(Composição: Gonzaga Jr)
São coisas dessa vida tão cigana
Caminhos como as linhas dessa mão
Vontade de chegar e olha eu chegando
E vem esta cigarra no meu peito
Já querendo ir cantar noutro lugar
Diga lá, meu coração da alegria de rever essa menina
E abraçá-la, e beijá-la
Diga lá, meu coração, conte as histórias das pessoas
Nas estradas dessa vida
Chore essa saudade estrangulada
Fale sem você não há mais nada
Olhe bem nos olhos da morena
E veja lá no fundo a luz daquela primavera
Durma qual criança no seu coloSinta o cheiro forte do teu solo
Passe a mão nos seus cabelos negros
Diga um verso bem bonito e de novo, vá embora
Diga lá, meu coração
Que ela está dentro em meu peito e bem guardada
E que é preciso mais que nunca prosseguir
Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
O amor por você, morena
Faz a saudade me apressar...

domingo, 10 de agosto de 2008

Esse tal de roque enrow


Ontem confirmei minha teoria de que o rock baiano deixa muito a desejar. Muito. E não falo apenas da baixa qualidade de quase todas as bandas, nem das letrinhas amadoras, nem do visual pouco sofisticado, nem das mentes e corações alucinados que acreditam num futuro meio Rolling Stones e que adoram fazer tipos de conhecedores profundos de músicas, acordes e outras babaquices desnecessárias do gênero. Isso conta, obviamente, mas a falta de estrutura decente, de incentivos mais fortes, a falta de grana para ter equipamentos melhores, de gente minimamente capaz de pôr em prática o que aprendeu na alfabetização, bem como um público mais exigente compromete, com mais vigor, esse quadro. Sim, público mais exigente. As pessoas daqui se contentam com meio punhado de jovens problemáticos, vestidos de preto, com cabelos emporcalhados, que se embebedam com São Jorge e se reúnem nas horas vagas, ou seja sempre, em lugares do tipo Nhô Caldos. Isso quando não andam em bandos sorrateiros pelas ruas falando bobagens características. As duas bandas mais conhecidas, Ronei Jorge e Cascadura, que até poderiam merecerer algum reconhecimento por buscar fugir da regra do quanto-mais- incompreensível-melhor, esbarram na velha falta de tudo. E aí, os show se transformam em testes de resistência - som péssimo, barulho excessivo, ruído, dificuldade de entender o que se canta, e uma variedade imensa de casas de shows: Boomerangue e Balcão. Diante de um cenário e de um ambiente como esse você, francamente, começa a se perguntar se isso não faz parte da própria natureza do rock? Se avacalhação e irreverência, nesse caso, não são a mesma coisa? Daí aparece Rita Lee na concha e a gente percebe que não perdeu a lucidez ao criticar implacavelmente o que aqui se tem. Porque o que aqui se tem não é nada, não pode ser nada e não pode durar. Fazia tempo que não me sentia bem num show de rock. A última vez foi no ano de perdi as contas. Rita Lee foi meu novo marco. Sim, foi um belíssimo show. Eu entendia o que ela cantava. Eu conseguia diferenciar o som da guitarra do ruído da bateria e do baixo. Era possíveladmirar o cenário porque tinha um cenário. Deu pra dar risada porque a vocalista sabia dizer coisas mais interessantes do que "eu gosto do iron maiden". E, nesse caso, 35 reais são sempre bem pagos. Sempre. Quanto as pessoas que dizem que o ingresso estava caro, talvez seja a hora de encarar os fatos e perceber que não, nós é que vivemos num país sem dinheiro, que joga ao relento seus melhores artistas, um lugar em que as pessoas historicamente sempre preferiram um porre homérico à cultura. Pra mim, essa história de rock e de tudo e tal é o retrato de um cidade e de um país que de tão "barato" acaba sempre ficando vulgar demais.


Beijos, vou pra João Gilberto!





domingo, 3 de agosto de 2008

O que podemos espera, afinal...

Tem de existir algo de errado numa sociedade em que tudo que tem o viés pretensamente popular vira galhofa, almoço em família, piquinique de mal educados. Não passa por nenhuma teoria, não pode ser explicado facilmente, mas indiscutivelmente é um fenômeno grosseiro, constrangedor e muito humilhante. Muito. O governo oferece espetáculos populares para o povo. Incentiva a presença de porteiros, lavadeiras, domésticas e, como a esquerda bem gosta de bradar, dos excluídos da sociedade em lugares identificados como postos avançados do elitismo cultural, que é parte integrante da história do país a mais de meio milênio. Num de seus filmes, Glauber Rocha criou um personagem que fez uma pergunta extremamente significa e cuja resposta invoca meus piores temores e pesadelos: "O que vai ser desse povo quando esse povo chegar ao poder?!" Evito essa pergunta sempre que possível. Mas não hoje. É difícil acreditar, mas essa, meus caros, pode ser a armaga resposta. Você chega ao Castro Alves, às 8h50, já que os ingressos estarão sendo vendidos a partir das nove, espera um tempo interminável numa fila-dobra-quarteirão repleta de figuras, que apesar de muito exóticas e patéticas, nada se assemelham com porteiros, lavadeiras e domésticas, continua em pé durante outra eternidade esperando as portas do teatro se abrirem para duas horas depois acomodar-se numa das poltronas sob o barulho alucinante de jovens, crianças, adultos, velhos e espécies em extinção que gostam de causar. Além dos gritos de "soberana", "linda" e "diva" para a filha de Chaplin, que como boa francesa não se deu ao trabalho de aprender o português para entender esses cometários incontroláveis, a platéia, muito bem acostumada a sentar em frente a tv para se deliciar com cenas super tocantes de Manoel Carlos, Gilberto Braga e afins, não se continha diante da apresentação e levava tudo a uma bancarrota digna de país com pouca cultura de cultura: palmas fora de hora, criança chorando em momento dramática, velhinho se levantando para ir ao banheiro, pré-adolescentes eufóricos mandando beijos de uma ponta a outra do teatro, pais-classe-média acomodando os pés da prole sobre as poltronas, garotinhos adoráveis achando que estavam na Fonte Nova, gente que deixou de ver o Zorra Total pra dormir cedo, risadinhas inoportunas, celulares ligados, flashes quando a idéia era trazer a escuridão, piadas sob o roteiro, frases torpes, e coisas do tipo. Um fiasco. Sério.
Saldo da manhã: 0,50 centavos pessimamente empregados, visões do inferno repleta de espíritos com cara de sono e maquiagem dormida, cansaço, tempo de espera, fila, fome, nervosismo, irritação, vergonha alheia, vontade de sair antes do começo, impaciência, comportamento agressivo, vontade de responder a frases miliotontas do tipo "será que água do bebedouro aqui custa 2 reias?!" , concentração abalada pelos "ARRASOU!" "perfeito" "maravilhoso" "que estética linda" de um grupinho de amigos que na fila de trás e, pra delírio de quem ainda acredita no poder das multidões, empurra empurra na hora da saída. Um minuto de silêncio em nome da criatividade apagada pela vulgaridade. Pêêêêêêêêêêê