domingo, 11 de outubro de 2009

Ciclos


Toda viagem passa por um ciclo de preparo, consumo e consequências. O meu é sempre vicioso.

TRISTEZA E CONTENTAMENTO (Referente a 1ª Etapa) É quando sua rotina está uma droga e aquele seu sonho de morar em NY anda tão distante que qualquer promoção aérea para Minas Gerais já te deixa animado. Perceba, é somente Minas Gerais.

DÚVIDA (A etapa que não é primeira nem segunda)
Você ouve alguém na rua falar uai e trem bã (se não for MG pensa no sotaque do lugar que você vai e substitui. A fórmula funciona). Imediatamente, você se lembra de que vai para esse lugar e que vai ser assistido por pessoas que se comunicam assim. Should i stay or should i go?

PLANOS (2ª Etapa)
Vendo que não é um bom negócio cancelar a passagem e perder paciência e dinheiro, você confirma o hostel. Uma vez concluído o processo, é hora de fazer planos do que fazer e ver. E aí, pirem, você acaba descobrindo que o ponto turístico da cidade é uma lagoa. Pirem de novo: é artificial.

ANIMAÇÃO (Da etapa em que o desfecho começa a se anunciar)
Uma lagoa é um lugar aprazível. Um trânsito pesado é sinônimo de vivacidade. Um aeroporto na casa do inferno é sinal de planejamento urbano. Um povo caipira é excelente fonte de estudo antropológico. Temeridade, lixo é o seu lugar.

CRISE BRUTA (Etapa Crítica)
É o momento em que a empolgação se encontra com o pouco que sobrou do seu senso de realidade (e, convenientemente, com seu senso de rídiculo). Você pensa em cancelar passagem, albergue e congresso. Sabe que será ruim com a mesma certeza de que sabe que precisa ir.

DA ETAPA QUE SE CONCLUI Você viaja. O que vai sobrar disso depende de alguns fatores imprevistos, que embora incertos sempre te levam inevitavelmente a...

...TRISTEZA E CONTENTAMENTO
Porque se sua última viagem foi maravilhosa você fica triste porque acabou e se foi uma porcaria você fica triste porque foi e gastou o dinheiro do aluguel de seu cubículo quarto e sala em NY. É quando sua rotina volta a ficar uma droga e....

Foto:
De uma viagem que passou por todos esses ciclos, mas que ainda não sei o tamanho do sucesso ou fracasso.

PS: Há exatamente um ano eu tinha uma vida em Oslo, na Noruega. Depois, eu tinha uma passagem pra Dublin com conexão em Milão. Em seguida, uma matrícula numa escola em Londres. Quarta-feira estou indo para Belo Horizonte. É pra cortar os pulsos, né não?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

I do believe in


Inspirada nos ideais apurados de Carlota Joaquina, a louca, ela desembarcou no Brasil após o exílio de um ano no Canadá: “Dessa terra, eu quero até o pó”, declarou beijando escandalosamente o solo do Aeroporto Internacional Dois de Julho, em Salvador. Depois da rápida temporada de seis meses na capital do acaraxé, Camila Mathias, filha da socióloga Viviane e do filósofo Carlos, sobrinha de Xalala, prima do entrevistado anterior, Daniel Fonseca, amiga de Sarah, conhecida de Taiana Pinho, reconhecida ortograficamente pelo Word, encontrada no topo da lista de presença da Unicamp, inteligente de nascença, diz que tem um sonho: quer ser apenas Camila Mathias. Como boa pós-moderna, odeia rótulos. Geminiana do tipo que se divide em três, Camilinha, como prefere ser chamada até os 65, vive a rotina atribulada e desesperada de qualquer estudante universitário brasileiro na bouca de se formar: cursa Ciências Sociais [atente para o fato de que é uma Ciência e não um Serviço] e presta trabalho escravo ao Nepo, Núcleo de Alguma Coisa que Até Hoje não Sabemos o Que É. Nesse turbilhão, a grande baianinha de 1,53m reservou um pequeno espaço na sua gaula cotidiana pra mostrar que quer e pode dar respostas capazes de Roda® Tudo. Cinco meses após o envio das perguntas, nos deparamos com respostas mais complexas do que a nossa vã filosofia é capaz de alcançar - ainda que filosofar, para ela, seja bem menos interessante do que uma assadeira de cookies e ou queijinhos no Porto da Barra.


Quero começar a entrevista perguntando da sua origem mesmo. Onde você nasceu? Em que ma
ternidade? Qual o seu signo?

Nasci em Salvador, óbvio (É que o Brasil só tem mais de cinco mil municípios, bem natural ela nascer aqui), mais precisamente no Hospital Espanhol. Tive o privilégio de já chegar ao mundo com vista para o mar! Sou de gêmeos, acho que isso justifica minha indecisão constante! (risos).

E o seu orixá, você sabe?

Não sei qual é meu orixá, mas confesso que fiquei curiosa e fui procurar no Google.

Um lugar bem confiável pra jogar os búzios, né?

(Risos) Sei que não é o meio mais adequado, mas enfim...Um dos sites em que entrei disse que meu orixá protetor é Yemanjá. Outro disse que é Ibeji. E outro disse que é Òdí. Conclusão: continuo não sabendo! (risos).

Todo mundo te acha bem estudiosa. Mas você acha que estuda muito ou que só está assumindo as responsabilidades pelas suas escolhas?

Olha, acho que hoje eu posso dizer que estudo pra assumir minhas responsabilidades mesmo. Mas, na época do ISBA, vamos ser sinceros, eu acho que eu era meio biruta! (Risos, risos)! Já me perguntei várias vezes como eu conseguia estudar daquele jeito. Acho que hoje eu sei equilibrar melhor as coisas!


Nada. A gente até gostava de saber do gaba
rito oficial antes do professor. Mas me diz, você raramente revelava sua notas (certamente para não deixar que 99% dos colegas chegassem em casa e perguntassem aos pais se não tinham um cérebro mais legal pra colocar naquele corpinho). Mas alguma vez você já tirou nota abaixo de 7?

Claaaaaro que sim! Várias vezes (tá 6,9 não conta). Avisa que tirei 3,25 na prova de matemática da segunda fase da Unicamp (enche o peito em sinal de orgulho)! (Risos)! E só fui descobrir isso essa semana, quando fui pedir meu histórico escolar.

É, mas quando você tira 3,25 na prova de matemática da Unicamp, você fica em quarto lugar. Já aconteceu de você ter um rendimento ruim e chorar bastante em casa?

Tá brincando, né?


Não, estou falando sério. Outra coisa também. A gente q
uase nunca te vê xingando. É por opção ou por falta de repertório?

Puta que pariu, você nunca me vê xingando é? Como assim, seu filho da puta? Em que mundo você vive, seu porra? (risos). Sempre falei palavrão. Olha só como soa natural. E tenho dito.

Bem, já vi que repertório você tem. Falta só a prática mesmo. Você, além de simples, é muito calminha. Quando é que você sai do sério?

Quando minha professora de antropologia me faz adiar três vezes a passagem de volta pra Salvador; me faz pagar uma multa de quase R$200,00 pra alterar a data e ainda me diz: “Pense que você vai pra Salvador em algum momento, querida. E eu, que nem pra lá vou?”

Risos. Dá pra notar que o mundo é mesmo muito injusto e que a gente precisa ser um pouco mais compreensivo com as pessoas. Quando você voltou do Canadá (pela primeira vez), a experiência de morar fora te deixou um pouco mais faladeira. Por quê?

Porque assim, né, eu voltei de lá, tipo 10 horas de viagem, aí eu cheguei e papapapapa. Queria falar tudo de uma vez e pior é que eu me confundia (ia?) toda. Eu começava a falar, aí esquecia as palavras (Amnésia?). Na aula de redação de Zé Gomes, eu esquecia como escrever em português toda hora!! Mas aí, no dia que eu cheguei era aula de Carrera, e não podia ficar falando. Peguei os balões (as meninas tinham colocado vários balões na sala... tão bonitinho isso, né? Uma graça! E era tudo cor de rosa, se eu me lembro bem)... Mas aí Carrera tava dando aula, e eu fiz um lacinho com os balões na cabeça dele (zzzzzzzZZZZZ). Foi lindo aquilo. Ele não entendeu nada. Achou que eu era louca, né?!

Ele achou, foi? Acho que carece de provas.

Pois é, aí eu saí da sala e meniiiiino (zzzZZZZZZZZZZZZZZZZ), fiquei com uma crise de rinite no dia seguinte. Fiquei de cama vários dias. Aí que não podia falar mesmo... mas, peraí, qual era a pergunta mesmo? (risos).

Hã? Ah, então, queria saber se você era faladeira, mas nem precisa responder.

(Risos) Respondendo de verdade agora (medo!). Acho que sempre fui meio faladeira (supresa!) ! Você que só percebeu isso com um pouco de atraso! (risos) Vai ver que foi saudade de vocês, uai... Tinha muita coisa pra contar!

Teve algo que você fez no Canadá que ninguém, absolutamente ninguém sabe?

Com certeza! Você queria que eu narrasse todas as vezes que fui ao banheiro fazer pipi?

Tá, tudo bem, não precisa falar do restante. Eu tenho uma outra curiosidade. O que você acha que aconteceria se você ficasse bêbada?

Eu acho que já nasci num estado não-alcóolico de embriaguez eterna, sabe?

Mas, enfim, eu ficaria bem mais tonta do que já sou!!!! E episódios como o da “gaula”, o da piada do biscoito, o do “EU NÃO FAÇO FILOSOFIA!” e o do “toma R$5,50, mas se for mais que R$5,00 não compra não” seriam bem mais freqüentes. Ah, e provavelmente minha voz sairia bem mais esganiçada também...


Você tem alguma preocupação com seu país?

Claro que sim. Por que outra razão eu faria Ciências Sociais? (Riiiiioooooo 2016!!!! UHUUUUUUU)

Aproveitando a euforia com a Copa do Mundo e a com Olimpíada, que, né, demonstram bem a sua preocupação com o Brasil, então, por que pensa em ir embora?

Perguntinha só pra me irritar, né? (risos). Porque tem um pedacinho de mim que mora lá fora. Porque eu adoro a sensação de chegar num lugar diferente. Porque eu sonho em rodar o mundo. E porque nada disso muda ou diminui meus sentimentos em relação ao Brasil.


Nesse caso, você pretende voltar a morar em Salvador ou acha que ficou pequena demais?

Por enquanto acho que não. Mas ninguém sabe o que o futuro reserva (frase original). Salvador sempre vai ser meu lar e nunca vai ser pequena demais.

Claro, é como ter um sítio no interior. Você sabe que ele é seu, mas não precisa pisar em titica de galinha pra saber que ele existe, né? Enfim, retomando, quem do besteirol que faria você ficar feliz em qualquer situação?

Acho que você mesmo, Gilzu...Até quando você é irritante, você me faz rir! (risos).


Alguém do besteirol que faria você ficar triste em qualquer situação?

Não conheço todo mundo do besteirol. (Vejamos, quem ela não conhece do Besteirol. Paula!)


Alguém do besteirol que você levaria pra uma Ilha Deserta e alguém do besteirol que você deixaria pra sempre numa ilha deserta?

Eu levaria Boi pra uma ilha deserta, porque ele, como bom irmão e boiólogo, ia me proteger de todos os insetos malignos e seres da escuridão. E eu também o deixaria lá depois pra fazer amizade com os elefantes.

Não conheço muitas ilhas desertas que tenham elefante, mas deixa quieto. Qual é a frase que define seu lema de vida?

I do believe in fairies, I do, I do!

Quantos anos você tem mesmo, hein?

21.

O que você acha da sua imagem de muito inteligente? Te agrada ou você desejaria ser conhecida primeiramente sobre outro estigma?

Não sou adepta a rótulos.

Curiosidades:

- Que Camilinha já fez intercâmbio para o Canadá isso todo mundo já ta canadense de saber. Agora, ela pouco revela sobre o mega tour que fez para Europa. A viagem pelo velho mundo, que iria marcar definitivamente todo o pensamento humanista dela, envolveu cidades como Paris, Londres e Bruxelas.

- Apesar de ter ficado um ano fora do país e ter sido obrigada a fazer prova de Ensino Religioso no terceiro ano, Mathias não perdeu o fôlego e foi a primeira colocada no vestibular de Ciências Sociais da UFBA e quarta na classificação geral. Foi aprovada também no vestibular da Unicamp, onde está concluindo a graduação.

- Embora afirme conhecer seu Orixá tanto quanto o Google entende de Candomblé, ela é do tipo que faz por onde quando o assunto é se proteger de mau olhado. Todo ano, alugar um barco e leva, no 2 de fevereiro, perfumes e flores pra Yemanjá. “Mandinga da gente continua...”

- Enquanto boa parte de seus amigos, estavam planejando que lanche comprar quando a moça da bilheteria deu o troco a mais, Camilinha só pensava na forma mais discreta de devolver o dinheiro para não prejudicar a atendente.

- No primeiro dia de aula, pós intercâmbio, Camilinha abre a porta da sala dos professores e diz: “Oieee, alguém lembra de mim?!” SILÊNCIO!

- Até o segundo ano, Camilinha se escondia no banheiro feminino toda vez que avistava Victor Vaqueiro no corredor. Não precisa dizer por que. Quando não conseguia escapar, a gente sempre ouvia o grito de desespero. “Camilinha foi atacada”.

- Na única aula de Educação Física que fez, Daniela Cipó assustou tanto Camilinha na corrida que ela quebrou o dente. Desde então, acha uma selvageria jogar futebol sem alambrado.

- No último Censo Besteiropopuli, Camilinha foi a mais lembrada quando o assunto foi ética, caráter e senso de justiça.