sexta-feira, 30 de maio de 2008

O problema do dinheiro é não tê-lo...


Pela primeira vez, desde que me entendo por gente, me senti pobre. Do tipo que tem uma merreca quase desprezível de 70 reais na conta e que não garante nem a combinação da Saraiva de um Kundera com um Hemingway. E, pela primeira vez na vida, eu entendo que a pobreza não produz condições para se falar em vida. A minha pobreza brusca, que vai durar até o momento em que encontrar o HSBC, deve-se a um depósito quase "irrisório" direto na conta da Oslo University College. Algo grave: o depósito não está completo, o que significa dizer que ainda corro o risco de ter o visto negado. Algo mais grave ainda: caso isso aconteça, não faço idéia se receberei o dinheiro de volta, como e quando receberei. Isso significa que até agosto a situação é de total espera. É demais para uma única pessoa agüentar essa expectativa e ainda ter que conviver rodeado pela miséria financeira.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Qualquer um poderia ser minha anta, até Lula.





Nas fotos : Lula, o homem que, para alguns, é o pai do Brasil. Alguém discorda?


Nunca na história desse país tivemos tantos escravos como hoje em dia. Você veja, é tanta escravidão que é uma coisa que até me deixa emocionado. A princesa Chica da Silva, aquele que aboliu a lei áurea, vocês devem conhecer, ela foi um pessoa formidável pra história desse país, uma mulher de fibra. Hoje em dia, tá tudo um beleza. O pobre hoje, né Dilminha, tá numa mordomia que só, tão até comendo carne. Nós tamo fazendo um governo que é pra ferir azelites do país, as zelites que nunca gostaram de nós nordestinos. É o que sempre digo pro Alencar e pro Antônimo Ermírio. Mas veja, onde eu tava mesmo?

-Na escravidão.

- Olha, foi bom você ter tocado nesse assunto porque o Santos perdeu essa semana e eu fiquei em casa me perguntando...
Trabalhar no último feriadão do ano e pedir pra não falar mal de alguém é demais, né? É demais...

domingo, 18 de maio de 2008

O word reconhece. Eu também.

(Na foto Steinbeck fazendo cara-de-quanta-besteira-há-nesse-mundo)

John Steinbeck foi o meu achado literário. Literalmente. Andava revirando uns livros antigos na “biblioteca” de minha casa lá no interior, quando achei um livro amarelado e de título interessante: “A rua das Ilusões Perdidas”. Títulos interessantes me atraem. E eu fiquei me perguntando o que um Nobel estaria fazendo em meio a um punhado de livros infanto-juvenis, espíritas e de medicina. Bem, mas estava lá, paradinho e pedindo para ser lido nas monótonas tardes daquela cidade. Tenho a seguinte mania: assim que acabo um livro bom, vou investigar todas as opiniões sobre a obra. Eis que descubro que ele tinha sido o mesmo autor do aclamado As Vinhas da Ira. Fato que tenho descoberto um excelente autor. E eu gosto de descobri bons autores, assim do nada, sem indicações, sem referências, do nada mesmo. Foi assim que descobri Isabel Allende e Hemingway, por exemplo. Volto e meia tenho essa mania de escolher livros como quem escolhe frutas no mercado: está com uma cara boa, então leva. As vezes dá errado. Deu errado com Borges, por exemplo. A cara estava boa, mas só a cara. Ficções é um livro sofrível, sofrível mesmo, do tipo que você conta quantas páginas faltam para acabar o capítulo. Um dia pretendo relê-lo pra confirmar que eu não estava com problemas quando li. Já quebrei a cara também com esses livros infanto-juvenis que colocam em letras gigantescas na capa: “O melhor livro de fantasia depois do Senhor dos Anéis e de Harry Potter”. E muitos idiotas acreditam piamente que estão prestes a ler uma outra obra-prima. Eu, por exemplo, fico sempre tentado. Já levei dois desses lixos para casa. Mas Steinbeck é diferente (acabo de perceber que Steinbeck é reconhecido pelo Word). Ele é bom nos diálogos, faz páginas inteirinhas super bem escritas, passeia de conversas densas a rotina do dia-a-dia com uma facilidade admirável. E é perverso também. Perverso porque coloca o dedo na ferida humana. Expõe cada contradição nossa e praticamente diz: “e aí, você acha que é diferente disso? Pois saiba que não, você não é. É tão igual ou pior do que eles e agiria exatamente como eles agiram, não é?”. Sim, sim. E, apesar de alguns dizerem que Steinbeck limita-se a sociedade americana, eu tenho absoluta certeza que seus escritos são uma crítica feroz a toda sociedade capitalista. É imperdoável. Uma espécie de Lars Von Trier da Literatura. Com a sutil diferença de que Steinbeck parece crer e nos faz crer que as nossas saídas, que os nossos caminhos estão no próprio homem, mesmo que esse homem seja tão condenável.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

É a nave..




Se algum dia alguém te perguntar como é a nave, não precisa hesitar muito pra responder:

Você junta um punhado de amigos. Amigos de vários ciclos, sabe? Aquele que usa all-star até para dormir, aquela que usa uns óculos besouro em dias nublados, seu amigo de chinelinho hippie, ex-militante de São Lázaro, e que trocou o hino da Internacional pela nova canção do Strokes e uma conhecida de um conhecido de uma amiga, que faz o tipo não-paro-nunca, e cujo nick do MSN é “Eu não gosto de Zorra Total, é sábado a noite e não me deixem ficar em casa!! Solteira em Salvador!!! Extravaza”. Pronto. Aí, alguém tem a idéia de marcar aquela conversinha regada a bebidas mais baratas, gente alternativa, barulhinho soteropolitano, e cheiro de acarajé. Todos em Dinha. A Nave, como se sabe, é a festa do dia seguinte: marca pra sábado, mas só começa, de fato, no domingo. E meia noite, as luzes de cá de fora se apagam e a noite começa. Pronto. Você pode até dizer que não curte balada, pode até jurar que não gosta de músicas estrangeiras, pode até mesmo alternar entre as duas pistas mais alternativas das alternativas, o mezanino e a varandinha, pode até se esconder no banheiro e ver coisas e ouvir conversas que fariam sua mãe perder a virgindade de novo, pode botar a mãozinha no ouvido e fazer cara feia, pode empurrar e ser empurrado, mas uma vez que você decola....RÁ!!! Aquele abraço... O saldo da noite é garantidamente positivo: um de seus amigos já está alegre antes mesmo de entrar, aquela sua amiguinha do MSN, lembra o nome? Pois é, nesse momento, eu também já esqueci, mas ela já perdeu a conta de quantos já passaram pela fila, e o seu amiguinho de São Lázaro anda aprendendo a como revolucionar as pistas de dança misturando a coreografia da Madonna com o jeito esquisitinho do Arctic Monkeys e os outros dois já estão combinando de vir pra próxima nave com um novo grupo de novos amigos fantasiados deles mesmos. Essa é a minha história com a Nave.

*Favor não olhar lucidamente a comanda.
** Nome mantidos sob absoluto sigilo.


Nave 3 anos, Boomerangue - Rio Vermelho, sábado (amanhã!!)!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Eu te invento, ó realidade...


Estava precisando de Clarice Lispector. Sim, eu preciso dela toda vez que preciso sentir. Eu preciso dela toda vez que preciso me entender. A sr. Lispector diz coisas pra mim que ninguém diz. Ela sabe quem eu sou como ninguém sabe. E, vejamos, ela nem me conhece. Então, eu saí do estágio direto para a livraria mais próxima. Comprei A legião Estrangeira, um livro fino, 100 páginas, alguns poucos contos. Seria a dose suficiente para o feriado do primeiro de maio. Seria. Acontece que o mercado editorial está adorando fazer picaretagens literárias. E, nós poucos e raros que fazemos parte do chamado setores médios intelectualizados, ou semi-intelectualizados, ou pretensamente intelectualizados, sempre caímos nessas armadilhas. Cerca de 90% dos contos presentes no livro que comprei estão espalhados em outros livros de Clarice ou concentrados num livro chamado Aprendendo a Viver, que é uma espécie de compilação póstuma. Já li todos. E eu, como bom leitor disciplinado, e como alguém que faz jus ao pouco dinheiro que tem, li o livro todinho, os mesmos contos pela segunda, terceira e até quarta vez. Mas sendo Clarice, eu juro que nem importo de ser vítima dessa picaretagem literária. Minha biblioteca agradece sempre. Eu também.